Terminou de forma tensa o I Seminário de Portais da Paraíba, realizado ontem à tarde no plenário do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PB), em Jaguaribe. O evento começou com as apresentações e elogios de praxe, passou por uma exposição técnica, feita pelo conselheiro Nominando Diniz a respeito das ferramentas de controle e transparência pública para monitorar o uso de dinheiro dos governos e contou ainda com a participação do marketeiro Hermersson Teixeira, discorrendo a respeito das formas de mensurar audiência nos veículos online. Mas o clima esquentou mesmo quando se abriu um debate com os representantes das empresas de comunicação virtual. A partir daí, surgiram vários questionamentos que não foram suficientemente esclarecidos pelos fundadores da Associação de Mídias Digitais (Amidi).
Um dos pontos nebulosos foi abordado pela diretora do Portal do Litoral, Joelma Alves. Ela criticou o fato de, entre os sete fundadores e diretores da associação não existir nenhuma representação feminina. O secretário da Amidi, Gutemberg Cardoso exibiu um broche do “Outubro Rosa” e alegou que não há nenhuma discriminação, mas que os primeiros encontros agendados para discutir a formatação da entidade teriam tido tantas brigas que “seria melhor não ter nenhuma mulher”.
O ambiente se tornaria mais tenso, contudo, com a intervenção do diretor presidente da Rede Paraíba de Comunicação, Eduardo Carlos. Ele fez questão de enfatizar que nem seu grupo e nem os demais conhecidos como “da mídia tradicional” – Sistema Tambaú, Correio, Arapuan e Opinião – haviam se filiado à Amidi. O empresário estranhou a aprovação do estatuto da associação, que chegou a ser discutido com alguns dos representantes dos chamados grandes veículos, mas não havia sido aprovado por eles: “Eu disse que seria prudente aguardar a presença de Beatriz Ribeiro, do Sistema Correio e de Cacá Marthins, que havia acabado de assumir a superintendência do Sistema Opinião. Como foi aprovado um estatuto assim? Não houve discussão suficiente”, ponderou. Outra a engrossar os questionamentos foi Beatriz Ribeiro do Sistema Correio.
Gutemberg Cardoso alegou que as sugestões feitas por Eduardo teriam sido acatadas e incluídas integralmente no estatuto da Amidi, mas nem o representante da Rede Paraíba e nem os demais superintendentes haviam tomado conhecimento do documento: “Pensei que o estatuto fosse ser distribuído aqui”, acrescentou Eduardo Carlos. Gutemberg ironizou: “Eduardo, você nos chamou para a sua casa e agora fica contestando o que discutimos?”. O empresário não titubeou: “Não! Fábio Targino [presidente da Amidi] me perguntou se a reunião poderia ser feita na Rede Paraíba e eu disse que sim. Não altere os fatos”. Tanto Gutemberg quanto Fábio concordaram que o empresário dera a versão real dos acontecimentos. Eduardo ainda considerou pertinente a dúvida de Joelma sobre a formação da diretoria da Amidi, já que não havia também nenhum membro dos grandes grupos empresariais da Comunicação e também questionou a existência de privilégios para os chamados “fundadores” da associação, cuja direção é restrita aos donos do Polêmica Paraíba, PBAgora, Wscom, MaisPB, Blogs do Dércio e do Gordinho e ClickPb, entre cerca de 500 veículos online no Estado.
A explicação dada por Gutemberg é que a fundação de uma entidade se dá entre um grupo de pessoas. Ele teria feito o convite a alguns empresários do setor, que aceitaram e começaram a discutir e formatar as regras para a Amidi, cuja finalidade seria definir regras para a divisão de publicidade pública nos portais. Ele admitiu, ainda, que os fundadores não entendem muito do assunto, tema novo no cenário até mesmo nacional, e chamaram advogados amigos que também não dominavam o tema, mas se propuseram a ajudar, sem cobrança de honorários, para elaborar o estatuto da associação.
Segundo o que foi tratado no seminário de ontem, a entidade quer implantar a adoção do Custo por mil (CPM) como norma para a cobrança de veiculação de mídia pública nos veículos online. Já em relação à Amidi, poderão se associar, apenas, portais de notícia com visitação superior a 5 mil acessos diários e blogs com 500 visitas por dia. Há, ainda, a cobrança de uma taxa anual para cada empresa associada.
Desigualdade com o interior: Um grupo de proprietários de portais do interior questionou a imposição de aceitação da Amidi e de seu estatuto, aprovado sem nenhuma participação e discussão com os sites do interior do Estado. Para eles, a associação começou de forma errada e até para convidar os representantes dos portais interioranos o convite chegou por telefone um dia antes do Seminário. A diretora do portal Folha do Sertão, um dos mais acessados sites da região de Patos, questionou o fato do estatuto só querer considerar portais com acessos superiores a 5 mil diários. Para ela, mesmo os sites que tem menor número de leitores têm foco em suas regiões de atuação e em geral repercutem muito mais fortemente em suas áreas do que portais de mídia da Capital do Estado.
Klebson Wanderley, jornalista e diretor do portal De Olho no Cariri, acredita que qualquer passo a ser dado na direção de regulamentar e organizar o investimento de mídias públicas nos portais da Paraíba passa pela discussão franca, aberta e séria com todas as realidades das diversas regiões do Estado. O portal De Olho no Cariri hoje está ranqueado entre os mais acessados sites da Paraíba, mas Klebson defende que a realidade vivida pelos portais do interior é diferente daquela vivenciada pelos sites da Capital e os diferentes não podem ser tratados com igualdade. O portal De Olho no Cariri foi representado no Seminário por sua assistente administrativa Bernadete Alves.
De Olho no Cariri com ParlamentoPB
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