
A região de São José da Lagoa Tapada, na Serra do Urubu, no Sertão da Paraíba, vai sediar o núcleo de uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP) que pretende descobrir a composição de uma parte do universo ainda desconhecida. O grupo de estudo do professor Elcio Abdalla vai usar ondas de rádio para mapear e descobrir os detalhes sobre cerca de 95% do cosmo ainda escuro para as pesquisas brasileiras. “A questão agora é saber qual a substância interna desse setor, que é escura”, explica.
O projeto intitulado de BINGO (sigla para “BAO from Integrated Neutral Gas Observations”), pretende se estabelecer na Paraíba com uma grande estrutura. O professor explica que existe uma recepção por dois espelho que focam as ondas sobre cornetas, que são cones de alumínio, com 1,80m de largura e 4,5m comprimento.
“Os cones de alumínio, em número de 30 a 50 (o número exato dependerá de fundos) envia os sinais à eletrônica, depois os sinais são recodificados para se retirar os ruídos e se tem a informação para o trabalho científico. Neste ponto fazemos a análise e comparamos com modelos existente para consideração”, explica Elcio.
A estrutura vai ser necessária para analisar uma linha específica, característica do hidrogênio molecular, com o objetivo de mapear grandes massas no universo. Isso porque o hidrogênio é o elemento visível mais abundante no espaço, espalhado em forma de gás. É nesse caminho que será possível vincular os modelos de matérias escura e energia escura, talvez até caracterizar as propriedades intrínsecas do setor escuro.
O projeto começou com uma ideia observacional de mapear a linha característica do hidrogênio molecular, e com observações do grupo sobre o lado escuro do universo, alinhando uma possível estrutura paralela, com interações apenas no setor escuro.
A pesquisa está há seis meses em processo de montagem do grupo, que faz parte dos Departamentos de Física e Matemática da USP, e propondo a experiência. O protótipo de receptor e corneta está sendo montado e a sua construção física na Paraíba deve ter início no mês de julho.
Por que a Paraíba?
Segundo conta o professor Elcio Abdalla, alguns outros locais foram cotados inicialmente para colocar a pesquisa em prática. O Uruguai foi o primeiro a ser descartado. No Brasil, o Rio Grande do Sul, Brasília e Bahia também tiveram suas áreas estudadas para concluir um local fixo. Mas foi a Paraíba o estado que deu mais viabilidade para a pesquisa sair do papel. “Vimos um céu claro”, destacou o professor. Uma questão importante, já que o trabalho utiliza ondas de rádio e eletromagnéticas. Portanto, o local, com poucas antenas de celulares e circulação de avião, era propício para execução do projeto.
Com a prática sendo executada na Paraíba, o projeto passou a contar com o apoio da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). “O pró-reitor está conosco e também nos ajudou a encontrar esse local na Paraíba. É um local afastado, porque é mais limpo. Tem que ser uma região afastada, isolada, lá não tem sinal nenhum”, esclareceu.
O assunto é algo que foge, literalmente, do nosso alcance. Portanto, são obstáculos e também contribuições que uma pesquisa como essa desencadeia. “Um degrau é descobrir o resto do universo. É a meta mais científica. Outra meta científica é analisar os sinais de rádio que vem do espaço exterior, sabemos que existe, mas não sabemos o que eles são”, explica Elcio.
Na questão prática e de retorno à população, o grupo precisará desenvolver técnicas de rádio, de metalurgia e eletrônica. “Tem também a contribuição humana. Todos nós somos educadores e isso vai trazer beneficio local pelo nível de divulgação científica que vamos trazer para o local. O escopo do projeto é multidimensional”, detalhou.
Por enquanto , o projeto tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e algumas outras promessas de financiamento chinês, inglês e suíço.
Com G1PB