O professor de História, Ivandro Batista, aborda nesse artigo a insegurança e a cultura da violência evidenciada na nossa sociedade e que vem amedrontando a população, tanto de cidades grandes quanto dos pequenos municípios.
Confira o artigo na íntegra:
“No filme ” Laranja Mecânica”(1971), de Stanley Kubrick, o personagem Alex é um criminoso, líder de uma gangue, que pratica estupros, bate em idosos e rouba pessoas. Ele é condenado a 14 anos de prisão por matar uma mulher. Na prisão ele aceita passar por um “tratamento psicológico”(tortura) que supostamente o tornaria uma pessoa normal. No tratamento ele é medicado e depois forçado a assistir várias imagens fortes e brutais. Isso o tornaria averso à violência. O filme de ficção científica é bastante perturbador, com cenas fortes, no entanto, mais perturbador é ver que situações do filme estão ocorrendo no cotidiano e estamos indiferentes. A barbaridade tornou-se comum.
Analisando as notícias da mídia vemos que os atos bárbaros são por motivos banais: brigas, discussões, fim de relacionamento amoroso, etc. Poderia resolver-se com diálogo mas vivemos em uma sociedade de intolerância em alto grau, de ultraviolência gratuita. Somos reféns do próprio medo. A mídia tem um papel crucial nesse problema pois em vez de enaltecer atos violentos ou aproveitar do sensacionalismo, deve esclarecer, buscar origens e soluções para o problema.
Se a violência é ruim, por que as pessoas sentem prazer com essas notícias? Imaginem almoçar ao meio-dia em Campina Grande assistindo “A Hora do Povo”, noticiando roubos, assassinatos e outras notícias importantes! Não seria bom programa para relaxar e ajudar na digestão. Esses programas de “plantão de polícia” têm muita audiência e revelam o que há de mais instintivo no ser humano: a agressividade e brutalidade de seus atos. Os outros animais são violentos? Apenas para se defender de ameaças.
A violência e a segurança pública tornaram-se temas fundamentais para futuras políticas públicas. Em tempos de rebeliões de presídios, de caos urbano, assaltos e arrastões, o tema preocupa toda a sociedade. Apenas para comparar: em 2015 mais de 58 mil pessoas foram assassinadas no Brasil. Esses números superam países que estão em guerra, como a Síria. A nossa guerra urbana mata mais e já somos considerados o país mais violento do mundo. No mesmo ano no Japão menos de mil pessoas foram assassinadas. O que deu errado no Brasil? Talvez um misto de impunidade, desigualdade social, falta de condições mínimas para a população e promoção de uma cultura de paz.
Andamos nas grandes cidades – e nas pequenas- assustados e com pressa. O que nos devolveria a paz? A conversa despreocupada nas calçadas com os vizinhos? A paz é o melhor estado de espírito, disso somos todos testemunhas.”
Por: Ivandro Batista