
Quando chegou à cerimônia de entrega do Prêmio São Paulo de Literatura de 2017, nesta segunda-feira (6), Maria Valéria Rezende estava, como ela mesma disse, preparando sua “cara de paisagem” para “pagar mico” e aplaudir enquanto outro finalista recebia o título de Melhor Romance do Ano.
Única mulher e a segunda pessoa mais velha indicada, ela achava que figurava entre os dez indicados apenas para cumprir cotas de diversidade. Quando saiu de lá, porém, seu romance “Outros cantos” (Alfaguara) havia se tornado o grande vencedor da noite.
“Eu estou muito surpresa, realmente eu tinha certeza que não seria meu”, afirmou ela ao receber o prêmio, que dedicou à escritora Elvira Vigna, morta em julho, aos 69 anos, em decorrência de um câncer.
A décima edição do prêmio, organizado pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, aconteceu na Biblioteca Parque Villa-Lobos, em São Paulo, e distribuiu um total de R$ 400 mil em três categorias, metade deles ao Melhor Livro do Ano.
Os premiados nas categorias Melhor Livro de Autor Estreante com Mais de 40 anos e Melhor Livro de Autor Estreante com Até 40 anos foram, respectivamente, Franklin Carvalho, com “Céus e terra” (Record) e Maurício de Almeida, com “A instrução da noite” (Rocco). Eles receberam R$ 100 mil cada um. Os três ganhadores ainda participarão da Feira Internacional do Livro em Guadalajara (México).
A ‘velha freirinha’
A idade avançada em relação aos demais escritores e escritoras da atualidade talvez seja justamente o segredo por trás do êxito literário da “velha freirinha”, como ela mesma se descreve. A combinação entre a maturidade e o acúmulo surpreendente de histórias tem rendido uma sequência de obras que vem desbancando favoritos e acumulando prêmios literários há quase uma década.
Em 2009, ela venceu seu primeiro Jabuti, com o segundo lugar na categoria Infantil pela obra “No risco do caracol”; em 2013, o terceiro lugar na categoria Juvenil com “Ouro dentro da cabeça”; em 2015, o primeiro lugar de Romance pelo livro “Quarenta dias”, também consagrado como o Livro do Ano de Ficção.
Antes de vencer o Prêmio São Paulo de Literatura, seu “Outros cantos”, um livro em que os leitores viajam a lugares aparentemente tão díspares como o Sertão, o México e a Argélia, transportados pela memória da protagonista Maria, venceu o terceiro lugar na categoria Romance do Jabuti, anunciado em outubro deste ano, meses depois de levar o Prêmio Casa de las Américas, escolhido o melhor entre os romances brasileiros.